Retirada de substâncias ativas e reforço de comunicação estiveram no centro das preocupações dos agricultores, que apelaram à união dentro do sector
Teve lugar no auditório da biblioteca da FCT UNL – Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa, na passada sexta-feira, a 3ª Edição das Jornadas da ANIPLA, Associação Nacional da Indústria para a Proteção de Plantas. Uma iniciativa que anualmente se dedica a reunir, no mesmo espaço, indústria, agricultores e entidades legisladoras para um debate sobre a homologação de produtos fitofarmacêuticos e sobre os principais temas que deixam o sector em alerta.
A retirada de substâncias ativas, a adaptação às exigências do mercado e o confronto crescente com campanhas depreciativas em torno da agricultura foram alguns dos principais tópicos abordados. «A Europa tem perdido diariamente investimento, talento e conhecimento e, hoje, mais do que nunca há uma guerra contra a indústria, e não só contra os produtos fitofarmacêuticos. As campanhas depreciativas em torno da agricultura, que nos obrigam a reagir sob pressão voltam a lembrar-nos da importância daquilo que nos dá força: os nossos argumentos. A indústria é, cada vez mais, capaz de explicar o seu papel, utilizar argumentos de força e deve, por isso mesmo, intervir e aumentar a transparência dos seus agentes. A difusão de informação pouco sustentada quebra a confiança do consumidor, sendo por isso missão fundamental legitimar a qualidade do que é produzido em Portugal», acrescentou Felisbela Campos, Presidente da ANIPLA, na abertura e apresentação de mais uma edição das Jornadas. «Sem agricultura não há paisagens, não há cenários românticos, não há plantas, não há vida. É um contínuo de não existência. Dramático, mas real» concluiu.
Durante uma manhã de partilha entre agricultores, técnicos, indústria e entidades oficiais foram abordados os atuais desafios e principais preocupações dos produtores representados pela ASHSA – Associação dos Horticultores, Fruticultores e Floricultores dos Concelhos de Odemira e Aljezur; AOT – Associação dos Orizicultores de Portugal e Algarorange – produtores de citrinos do Algarve. Adensam-se as preocupações de todo o sector, numa altura em que mais de 100 substâncias ativas não foram renovadas e cerca de 200 estão pendentes – num conjunto de 5 grupos de avaliação. Apenas 56 sustâncias ativas foram reavaliadas e renovadas, o que obriga à reflexão sobre o impacto desta retirada nas culturas. «O tomate, por exemplo, cultura importante ao nível nacional e internacional, é uma espécie que corre riscos, devido à sua grande exposição e probabilidade de contaminação», referiu Bárbara Oliveira, Diretora de Serviços da DGAV, Direção Geral de Alimentação e Veterinária, durante a sua intervenção.
Neste que foi declarado, pela FAO, como o Ano Internacional da Sanidade Vegetal, o aumento da consciencialização global sobre a saúde das plantas, de forma a erradicar a fome e a proteger o ambiente, é a principal preocupação da indústria. O Pacto Ecológico Europeu é o quadro de contexto onde todos terão de trabalhar, pelo que a adoção de medidas conjuntas e entre todos os membros do sector é uma oportunidade de informar a sociedade e renovar o compromisso por uma alimentação segura. «É essencial falar não só para dentro, mas também para fora e trazer o público para a conversa, de forma assertiva, explicando-lhe que da mesma forma que uma doença pode tratar-se com um antibiótico, evitando o pior, também as plantas precisam desse controlo», acrescentou Ana Paula Carvalho, Sub Directora Geral da DGAV, Direção Geral de Alimentação e Veterinária.
No encerramento da terceira edição das Jornadas, António Lopes Dias, Diretor-Executivo da ANIPLA, conclui que «importa, mais do que nunca, encontrar um canal único para comunicar com o consumidor, a uma só voz, combatendo a desinformação e o ataque permanente ao sector e aos seus agentes. A transparência é, sem dúvida, o ponto chave e o único que poderá reforçar a confiança do consumidor naquilo que é produzido nacionalmente: alimentos seguros. Mas mais do que isso: a informação, consciencialização e literacia na agricultura são fundamentais para combater fenómenos como a Quimiofobia, que se alastram num tema fulcral para todos nós como é a preservação das plantas e o assegurar de alimentos para as gerações futuras, facto que só pode ser absorvido por um total conhecimento sobre a forma segura como é produzido tudo aquilo que nos chega “do prado ao prato”».