CropLife Portugal

Fevereiro 28, 2020

Homolgação de produtos fitofarmacêuticos

O paradigma da missão da agricultura está a mudar. O do agricultor também. Uma tendência para a desinformação e uma visão errada sobre as suas práticas e actuação, sobretudo, quando falamos de produtos fitofarmacêuticos, adensa uma visão distorcida do sector e do seu verdadeiro papel de produtor de alimentos. Há uma tendência da opinião pública, entidades oficiais, órgãos de comunicação social e consequentemente da sociedade em geral para a propagação de mitos, facto que vem reforçar uma necessidade, cada vez maior, de comunicar a uma só voz. No ano em que se celebra a Sanidade Vegetal, é essencial comunicar de forma conjunta aquilo que está a acontecer: retirada de substâncias activas no mercado (sem substitutos), aparecimento crescente de novas pragas e um alerta urgente para compreender a importância e contribuição das plantas na perservação dos ecossistemas. Mais do que nunca, as plantas precisam de “cor e voz”, os agricultores de um só tom, mensagem e canal e o sector de um esforço de todos para o compreender e fazer parte dele.

ANIPLA, DGAV (Direção Geral de Alimentação e Veterinária), técnicos e agricultores reuniram-se para a terceira edição das Jornadas da Anipla sobre Homologação de Produtos Fitofarmacêuticos, a 21 de fevereiro, no auditório da biblioteca da FCT UNL – Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa, marcadas pela unanimidade naquela que é uma causa de todos e feita por todos. Confronto crescente com fortes campanhas depreciativas em torno da agricultura, que quebram a confiança do consumidor no processo produtivo; adaptação às exigências fitossanitárias do mercado num contexto de constrangimento; redução de substâncias autorizadas no mercado, que diminuem a capacidade de controlo de problemas fitossanitários, foram alguns dos temas em foco.

ANIPLA e Agricultores estão preocupados com a retirada de substâncias ativas no mercado e a progressiva diminuição de soluções para a protecção de culturas. Uma preocupação partilhada pela DGAV que revela que mais de 100 substâncias activas (s.a) não foram renovadas e que cerca de 200 s.a estão pendentes – num conjunto de 5 grupos de avaliação. Apenas 56 sustâncias activas foram reavaliadas e renovadas, o que obriga à reflexão sobre o impacto desta retirada nas culturas. «O tomate, por exemplo, cultura importante ao nível nacional e internacional, é uma espécie que corre riscos, devido à sua grande exposição e probabilidade de contaminação», refere Bárbara Oliveira, Directora de Serviços da DGAV.

Perante este cenário, agricultores, indústria e entidades regulamentares não têm dúvidas: é preciso falar para o mundo a uma só voz. É preciso reunir em torno de uma história única, todos os protagonistas, numa linha de comunicação consistente, coerente e onde não só nenhum argumento fica de fora, como torna o diálogo mais forte. «É essencial falar não só para dentro, mas também para fora e trazer o público para a conversa, de forma assertiva, explicando-lhe que da mesma forma uma doença pode tratar-se com um antibiótico evitando o pior, também as plantas precisam desse controlo», conclui Ana Paula Carvalho, Sub Directora Geral da DGAV. «A Europa tem perdido diariamente investimento, talento e conhecimento e, hoje, mais do que nunca há uma guerra contra a indústria, e não só contra os produtos fitofarmacêuticos. As campanhas depreciativas em torno da agricultura, que nos obrigam a reagir sob pressão voltam a lembrar-nos da importância daquilo que nos dá força: os nossos argumentos. A indústria é, cada vez mais, capaz de explicar o seu papel, utilizar argumentos de força e deve, por isso mesmo, intervir e aumentar a transparência dos seus agentes. A difusão de informação pouco sustentada quebra a confiança do consumidor, sendo por isso missão fundamental legitimar a qualidade do que é produzido em Portugal», acrescentou Felisbela Campos, Presidente da ANIPLA, na abertura e apresentação de mais uma edição das Jornadas. «Sem agricultura não há paisagens, não há cenários românticos, não há plantas, não há vida. É um contínuo de não existência. Dramático, mas real» concluiu.

Desafios para o futuro

2020 é o ano internacional da sanidade das plantas. Um ano em que, mais do que nunca, a consciencialização é a prioridade, com um Pacto Ecológico que será o quadro e contexto de trabalho para todas as entidades envolvidas nesta missão de alimentar e proteger o planeta: Autoridades Oficiais, Indústria da Protecção das Plantas e Sector Produtivo deverão estar permeáveis à mudança, à introdução de novas tecnologias e às exigências fitossanitárias. A uma Nova Revolução Verde. Neste que é o ano dedicado à Sanidade Vegetal, importa pensar naquilo que é o futuro e nos desafios que traz consigo.

«A sanidade dá-nos o mote para impulsionar o desenvolvimento económico e garantir a segurança alimentar, numa altura em que a FAO estima que a produção agrícola tenha de aumentar 60% até 2050 e que as pragas e doenças sejam responsáveis por perdas na ordem dos 40%», chamou à atenção Paulo Lourenço, da Direcção da ANIPLA. Num estudo realizado em Portugal, onde foram recolhidas 429 amostras, comprovou-se que apenas 1,6% estão acima do Limite Máximo de Resíduos, contrariando os 4,5% da Europa, o que significa que em Portugal os agricultores trabalham com base numa enorme segurança e que o que comemos, é seguro. É precisamente por isso que «urge ter no centro de decisão quem realmente produz alimentos: o efeito da pressão política, por agentes e comissários que em nada estão ligados à agricultura e ao sector é um dos maiores desafios globais que enfrentamos actualmente. Mais do que nunca, a agricultura tem de ser debatida por quem é da agricultura. A Europa vive num mundo de “Quimiofobia” – 30% dos europeus referem ter medo dos produtos químicos, 40% quer viver num mundo onde os químicos não existem. Contudo, 82% não sabe que o sal de mesa extraído do oceano ou produzido sinteticamente são a mesma coisa e 91% desconhecem uma coisa básica, “é a dose que faz o veneno”», referiu. «Em 150 anos a população mundial vai crescer quase quatro vezes mais, o grande desafio terá de passar por uma “Nova Revolução Verde” que nos ajuda, não a retirar o que temos, mas sim a acrescentar sustentável e concertadamente. A sanidade das plantas é a prioridade de qualquer agricultor. Sem plantas não há vida», conclui Paulo Lourenço.

«A estratégia Farm to Fork, defendida pela Europa, é outro dos nossos desafios: temos de olhar para a cadeia de valor e mostrar que aquilo que oferecemos ao consumidor é seguro.  É a adoção e reforço de práticas sustentáveis que marcará o futuro do sector», referiu Silvino Oliveira, membro da Associação de Produtores de Citrinos do Algarve. Opinião partilhada por João Reis, da Associação dos Orizicultores, que integrando os produtores de um dos alimentos mais consumidos em todo o mundo, o arroz, reforça que «identificar a proveniência é identificar a segurança, é fundamental partilhar esse selo e essa confiança com o consumidor». Além disso, «é importante não esquecermos que apesar de o consumidor não ter a necessária sensibilidade agrícola, tem uma enorme permeabilidade ecológica e ambiental que pode ser um desafio a explorar, como caminho para a literacia agrícola, permitindo  ao consumidor confiar enquanto escolhe o que é nacional», conclui.

Um desafio partilhado pela VITACRESS, especialistas em produção Baby Leaf, que recentemente aplicou à sua produção a mesma metodologia utilizada pela ANIPLA num estudo de impacto realizado em 2016, para compreender o impacto do desaparecimento de algumas das mais importantes substâncias activas nas suas culturas. O resultado? «Torna-se altamente complexo produzir espinafres, por exemplo», refere Clarisse Boto. «À medida que o sector vai perdendo aliados, adensam-se as dificuldades, que nos colocam a todos numa corrida contra o tempo em busca de soluções. Culturas em alta densidade têm ainda muita dificuldade em encontrar alternativas tecnológicas que suprimam os efeitos da não utilização de produtos fitofarmacêuticos e os biopesticidas, apesar de poderem vir a fazer a diferença, precisam ainda de uma enorme componente de formação, consciencialização e educação para esta cultura», conclui.

Oportunidades para a sustentabilidade da produção agrícola

No encerramento das Jornadas e debate entre os vários intervenientes, António Lopes Dias, Director Executivo da ANIPLA, lançou o desafio: «se, como sabemos, tudo o que nos rodeia é química, então como é que podemos assistir a esta aversão do público,  que se espelha todos os dias no desconhecimento e no ataque permanente ao sector e aos seus agentes? Pode o sector ser mais proactivo no esclarecimento para este tema? Poderemos comunicar a uma só voz, antecipando-nos, ao invés de sermos apenas reactivos? Como enfrentaremos a Quimiofobia e os Climaterianos?». Um momento escolhido por Ana Paula Carvalho, SubDirectora Geral da DGAV para reforçar que «é uma missão de todos, a começar por dentro e por nós, trabalhar na cooperação, manter o diálogo e a união de interesses entre toda a indústria». «Se é verdade que as redes sociais e a contaminação digital, ultrapassam qualquer esforço que possa ser feito para transmitir como os nossos alimentos são seguros, não é menos verdade que é o sector que tem de dar o passo em frente, assumir que toda a actividade humana tem um risco, explicando e gerindo como é que nós (indústria, entidades governamentais, legislação e produtores de alimentos) contornamos o nosso», acrescenta Paulo Lourenço, Director da ANIPLA.

«Não há dúvidas de que o ambiente é o driver de comunicação do futuro. O ambiente é o sector que vai dominar as tendências e comportamentos das grandes indústrias e, por isso, o caminho a seguir é incontornável: o sector e seus intervenientes vão ter que enquadrar a sua forma de comunicar naquilo que são os temas mais relevantes e que, mais do que tudo, devem ser utilizados como uma força» conclui António Lopes Dias, encerrando mais uma edição das Jornadas.