Realizou-se no dia 13 de outubro, a edição anual do Fórum Smart Farm, um dos eventos mais importantes para a ANIPLA, Associação Nacional da Indústria para a Proteção das Plantas. Este ano dedicada ao tema «Alimentos Seguros, Agricultura e Tecnologia», a iniciativa rumou ao norte, à Faculdade de Ciências da Nutrição e Alimentação da Universidade do Porto, reunindo à mesma mesa profissionais e representantes da indústria, para um debate sobre o papel imprescindível da inovação e ciência na garantia de alimentos seguros e em quantidade suficiente, bem como do impacto da formação, educação e sensibilização de profissionais (sobretudo, num contexto de enorme pressão europeia) na transição definitiva para uma agricultura 4.0. A conclusão surgiu em uníssono e tendo por base diversos argumentos: modernizar é sinónimo de educar, formar e sensibilizar.
O enquadramento, a cargo de Luís Antunes, Vice-Presidente da ANIPLA, focado nos desafios de uma alimentação segura, deu o mote para um ciclo de comunicações que através de testemunhos, apresentações de case studies e reflexões sobre áreas específicas da produção agrícola, convidaram a audiência para um diálogo aberto sobre as principais preocupações do presente, rumo a uma agricultura de (e pensada para o) futuro. Em jeito de ponto de partida, Luís Antunes, propôs olhar para a importância vital que a agricultura assume desde os tempos mais ancestrais, reforçando a importância de a protegermos, todos juntos, com cada vez mais força, fazendo face aos desafios e pressões externas crescentes.
Feitas as apresentações, Cátia Pinto assumiu a primeira partilha da tarde. Secretária Executiva do Smart Farm Colab, laboratório colaborativo para a inovação digital na agricultura, trouxe ao auditório uma pertinente proposta de reflexão: do que estamos a falar exatamente quando nos referimos à agricultura 4.0? E o que é que isso significa para quem produz alimentos? Não basta estarmos cientes de que ferramentas de precisão existem à disposição da produção de alimentos, é preciso ouvir quem está no campo, perceber quais as suas principais necessidades e adaptá-las, permitindo uma transição plena e consciente para uma agricultura verdadeiramente digital. A democratização e literacia digital facilitam o dia-a-dia na terra, e por isso há um trabalho fundamental a fazer no suporte técnico, formação, educação e sensibilização do produtor, ajudando-o a implementar estes sistemas de inovação tecnológica permitindo-lhe modernizar-se e caminharmos a uma só voz rumo à transição digital. «Tem de existir transferência do conhecimento e tecnologia. Se não soubermos como funcionam as principais e mais inovadoras ferramentas tecnológicas, elas não nos servem de nada», concluiu.
Fernando Alves, Responsável pela área de desenvolvimento e investigação da Symington, destacou a importância das novas tecnologias no apoio a uma viticultura sustentável, reforçando a ideia de que formar e sensibilizar os produtores, dotando-os de capacidade interpretativa de resultados é fundamental, já que um dos passos mais importantes para esta transição passa por «digitalizar a informação recolhida no campo, fazendo com que esta sirva de suporte às decisões».
Numa exposição dedicada aos principais desafios do setor vitícola e à forma como as tecnologias e ferramentas de análise digital ajudam a melhorar a precisão na produção, para a Symington, responsável por desconstruir e traduzir dezenas de informações sobre a vinha (só possível graças a implementação de dispositivos de análise) a conclusão é clara: é preciso promover a literacia digital, rumo à transformação no setor agrícola.
Em concordância com os restantes oradores e abordagens ligadas à tecnologia, , seguiu-se Ana Paula Garcia, Subdiretora Geral da DGAV. «Pediram-me para falar de uma coisa difícil: segurança e disponibilidade dos alimentos», começa por referir. Isto porque, «é um desafio cada vez maior falar, sobretudo, de disponibilidade; em termos de segurança podemos dizer que atualmente nunca tivemos produtos com tanta riqueza e diversidade, com um grau de segurança como o que temos agora, mas quando falamos de disponibilidade é uma grande incógnita – não apenas pelas contingências de guerra vividas atualmente na Europa, mas também face às medidas e propostas a que estamos sujeitos vindas da União Europeia». Biodiversidade, estratégias para o solo, controlo biológico, melhoramento de plantas e novas técnicas de melhoramento, formação, aconselhamento e avisos agrícolas, bem como inovação, investigação e aposta numa agricultura de precisão, cada vez mais digitalizada, fazem parte de um investimento necessário, rumo à disponibilidade. «Indústria, empresas e casos de sucesso como o Smart Farm Colab e outras empresas privadas que apostam neste desenvolvimento têm de continuar juntas, porque a agricultura precisa, como nunca, deste investimento e do aparecimento de novas soluções», conclui.
Na mesa redonda, Filipe Pimentel Rações, da Revista Green Savers e moderador deste debate colocou aos oradores questões relacionadas com algumas das principais pressões que o setor, profissionais e indústria enfrentam hoje em dia, a conclusão foi unanime: segurança é a palavra-chave quando falamos dos nossos alimentos e numa altura em que a transição para uma agricultura digital é fundamental, formação, investimento, educação e integração têm que estar em perfeita sintonia, permitindo fazer esse caminho. É preciso promover a literacia digital rumo à verdadeira transformação no setor agrícola, discutindo e avaliando as necessidades de cada setor, dando-lhes resposta, acompanhando-os e permitindo uma transição plena para uma agricultura modernizada.
No encerramento deste encontro, Felisbela Torres de Campos, Presidente da ANIPLA, agradeceu a todos o envolvimento por mais um ano consecutivo neste encontro em prol da agricultura, do setor, indústria e todos os envolvidos, relembrando que, num momento particularmente difícil que vivemos a nível europeu e a nível mundial, «a inovação e tecnologia no sector agrícola podem contribuir para a mudança necessária e para os muitos desafios que aí veêm e ao mesmo tempo contribuir positivamente para a Estratégia do Pacto Ecológico. Mas para isso tem de haver um ambiente regulamentar mais favorável, apoio directo aos agricultores e incentivos para garantir que tecnologias mais modernas e disruptivas sejam desenvolvidas e implementadas num curto espaço de tempo, de fácil acesso para os agricultores». Em total sintonia com as posições e testemunhos de todos os oradores presentes, concluiu acrescentando que «urge sermos capazes de ser mais eficientes na utilização dos nossos recursos e isso só se consegue através da ciência e sua aplicação tecnológica no sector da produção de alimentos».
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